Quando meu maior medo se tornou realidade

Eu disse que escreveria um texto logo após o outro, mas esse foi bem mais difícil.
Primeiro porque a falta do hormônio da tireóide tem me deixado desatenta, cansada e extremamente mal humorada. (Falo disso no próximo texto, sobre a vida sem tireóide).
Segundo porque não quero parecer a salvadora da pátria e muito menos uma coitadinha e achar o tom certo não foi tarefa das mais fáceis (sinceramente, nem sei se consegui!)...
Mas promessa é dívida e eu tô de volta com um post beeeem mais longo e mais detalhado sobre meu diagnóstico.

Como a maioria que me conhece sabe, antes de ir para o Tocantins, eu trabalhei em hospitais por quase 7 anos.
Apesar de nunca ter trabalhado na emergência ou nos centros cirúrgicos, meu trabalho nem sempre foi tranquilo. Eu vi muita gente entrar para uma consulta de rotina e sair com um diagnóstico terrível.
Eu vi senhoras que foram fazer consultas de rotina com o ginecologista saírem de lá direto pro Hospital do Câncer.
Eu vi um casal de gêmeos de seis anos que achavam que precisariam usar óculos pra ir pra escola descobrirem que tem uma doença congênita que os deixaria cegos em alguns anos.
Eu vi uma grávida de sete meses acordar um belo dia sem enxergar e descobrir que tinha um tumor no cérebro.
Foram muitos, não dá pra contar todos os diagnósticos surpresa: diabetes, pressão alta, alergias, cegueira em recém nascidos, lúpus, doenças congênitas ou degenerativas, mas de todos, o que mais me assustava, sempre, foi o câncer.
Não menosprezando as doenças degenerativas que também são terríveis, mas eu sabia que não as tinha. Já o câncer é uma doença que não escolhe idade, raça, classe social, e nem o estilo de vida da pessoa. Ele ataca. Não se sabe porquê uma célula sofre uma mutação e boooom, começa a se multiplicar e a te matar.
Por causa desse medo e por tudo que aprendi com os médicos que trabalhei, sempre fui muito atenta ao meu corpo e muito, muito, muito caxias com meu check-up!
Tão caxias que meu ginecologista me pediu pra ir apenas uma vez ao ano e não de seis em seis meses.. "Você é saudável mocinha, venha apenas se sentir algo errado".

2012 - O ano rapadura
Foi um ano maravilhoso, mas não foi mole não!
Meu namoro com João se consolidou e aparamos as arestas necessárias para ficarmos juntos (trem difícil).
Tive reconhecimento na profissão, a confiança de quem eu admiro, grandes portas se abriram, vida financeira bacana e eu estive bem perto de realizar um grande projeto profissional!
No meio do caminho, encontrei algumas pessoas más, daquelas que tentam derrubar os outros pra crescer, vi algumas pessoas mentindo descaradamente ao meu respeito, pessoas que prometeram me ajudar me prejudicando pelas costas... Coisas de política e seus parasitas.
No final do ano, tive que engavetar o projeto e tomar um rumo totalmente inesperado na vida profissional.

A soma disso tudo me fez sofrer e eu comecei a sentir algumas coisas erradas.
Primeiro, a menstruação enlouqueceu (se você pensou, Oh meu Deus, ela disse menstruação! CAIA FORA). Fui ao meu médico e após vários exames com resultado normal, ele concluiu que era devido ao grande stress que eu havia sentido. Conseguimos regular com anticoncepcional e a vida seguiu.

2013 - Um ano para se esquecer
Em 2013, comecei a ter crises gastrointestinais frequentes. Fui ao meu gastro e lá foi mais uma bateria de exames, quase todos normais (a gastrite e o refluxo estão lá firmes e fortes). Olhando pro meu histórico clínico, ele deduziu que eu tinha uma doença chamada Síndrome da Doença Auto Imune, que é quando o indivíduo sofre algum tipo de stress e seu sistema imunológico começa a atacar tecidos saudáveis. 
O diagnóstico me deixou arrasada.
Poxa, meu corpo se auto atacando?
Vamo consertar esse negócio gente, isso é coisa de gente doida!
Vou pra terapia!
Mas isso explicava muita coisa, inclusive uma crise que tive logo após João se mudar pra Brasília (fase mais difícil ainda).
Dias depois dessa crise, encontrei um grupo de amigos do Twitter e depois de contar a minha saga, Luciana Cerqueira me disse "Olha, uma amiga estava passando mal sem descobrir o que era e estava mal no hospital dia desses, se cuida".
Era exatamante o que não saia da minha cabeça e o que eu temia.

O nódulo 
Tempos antes dessa conversa, após tomar uma dose grande de antibióticos, eu tive vários gânglios (conhecidos como íngua) pelo corpo e achei um deles na base do pescoço do lado direito. Como todos sumiram em uma semana, não dei importância.
Em outubro, cerca de dois meses depois, eu estava me maquiando e enquanto passava base no pescoço, notei que o gânglio, que na verdade era um nódulo, havia quadruplicado de tamanho.
Eu sabia que aquilo estava muito errado!
Entrei em pânico!
Deu ruim pra mim! 
E agora?
Procurei telefones dos endocrinologistas de Palmas, mas demorei umas duas semanas pra ter coragem de ligar e marcar uma consulta!
Enquanto isso, li tudo que havia na internet sobre nódulos na tireóide. 
Na primeira semana de novembro, finalmente me consultei! A médica me atendeu muito bem e tirou todas as minhas dúvidas (bem melhor que o Google).
Nódulos na tireóide são bastante comuns, principalmente em mulheres. Na grande maioria dos casos (cerca de 90%), são benignos e só são retirados quando se tornam aparentes ou começam a atrapalhar o sistema respiratório. 
Ainda assim, eu estava com medo!
Eu sabia que havia algo errado.
Fiz os exames imediatamente ao sair do consultório. 
Quando vi o nódulo na tela do aparelho de ultra-som, eu desejei nunca ter aprendido a ver aquelas imagens estranhas. Ele era enorme, maior que todo o lado esquerdo da tireóide, cheio de vasos sanguíneos, parecia um monstro.
Uma semana depois, eu estava de volta ao consultório. A médica me explicou pacientemente que haviam algumas características nele que não eram boas e me pediu uma punção para identificarmos se era benigno ou não.
Nesse dia, eu desabei. Chorei praticamente o dia todo no trabalho. Graças a Deus, meus colegas foram muito companheiros e me deram colo. Longe da família e do namorado, esse apoio foi fundamental.
Eu só pensava em como CO-MO COMO MEU DEUS eu iria enfrentar um câncer!
Bicho, não tenho forças pra isso!
Eu não tinha contado essa história pra minha família porque não queria assustá-los antes da hora e sabia que minha mãe iria no outro dia pro Tocantins.
Pouco tempo antes, perdemos pessoas conhecidas para o câncer.
Uma delas, a mãe da minha madrasta, a quem eu estimava como uma avó havia partido há pouco tempo após sofrer muito, lutando bravamente por anos contra o câncer.
No dia da morte do senador João Ribeiro, muita gente estranhou quando virei uma leoa no Twitter quando alguns espíritos de porco comemoraram. Eu estava esperando o resultado da biopsia para daí a dois dias, sofrendo com a POSSIBILIDADE de ser maligno e só pensava na dor que aquele homem, sua família e amigos haviam passado em mais de um ano de tratamento, transplantes e tudo que a doença provoca.

Quando o resultado da punção saiu, a médica havia saído de férias. Pela minha vasta pesquisa na internet, eu sabia que o resultado não era bom, mesmo estando escrito "lesão folicular NÃO DETERMINADA".
Eu não podia esperar mais de um mês para meu retorno com a médica.
Eu também estava saindo de férias, então marquei uma consulta em Goiânia. 
Contei pra minha mãe e a família inteira entrou num pequeno ataque dos nervos. 
Outro médico gracinha me explicou tim tim por tim tim sobre os nódulos, sobre como são comuns e das chances enormes de ser benigno. Ele me encaminhou para a cirurgia. Apesar das chances de ser maligno serem muito pequenas, ele também explicou como seria o tratamento se eu caísse nessa porcentagem pequenininha. Nada de quimioterapia e radioterapia, ficar careca e passar mal numa luta árdua contra o câncer.
As chances de cura com cirurgia e um tratamento chamado iodoterapia chegam a 98% dos casos!
Confesso que foi um alívio.
Logo após o Natal, fui ao cirurgião disposta a marcar a cirurgia o mais rápido possível. Eu queria estar de volta pra minha rotina, minha casa, vida normal.
Meu pai não queria que eu operasse porque existe uma lenda que quando se mexe em um câncer, vira metástase.
Me levou a um naturólogo, queria que eu fizesse um tratamento alternativo (tenho chás e produtos naturais para o resto da vida). Também me levou à igreja. Ele não queria que eu sofresse o que a sogra dele sofreu.
Também tem um monte de gente falando um monte de coisa.
Melhor coisa é conversar com o médico. Só ele pode tirar suas dúvidas.
Ele nos explicou todos os riscos e que só seria possível saber se o nódulo era maligno ou não durante a cirurgia. Se fosse benigno, ele só retiraria o lado direito da tireóide com uma margem de segurança, caso fosse maligno, retiraria toda a tireóide.
Eu só queria me ver livre daquilo.
Dois meses e dois dias depois da primeira consulta, eu tinha feito todos os exames e faria a cirurgia.
Dia 7, o dia D.
Fui pro Hospital Samaritano tranquila. Estava acompanhada de João, minha mãe e minha madrasta (duas mães é muito amor né? <3). Entrei para o centro cirúrgico por volta das 11 da manhã e sai bem!
Minutos depois de voltar para o quarto, já estava brigando com João que não queria que eu conversasse.
Mas eu precisava saber se era ou não maligno.
Não tive coragem de perguntar diretamente.
Ainda meio grogue, perguntei se o médico havia retirado uma parte ou toda a tireóide.
Minha mãe respondeu que ele havia retirado tudo.
Fiquei pensando: será que o médico já sabia e me poupou do desgaste?
Mas não interessava!
Eu só conseguia agradecer a Deus por ter tido a notícia que tive câncer após me livar dele.


Comentários

  1. Belo depoimento. Coragem!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pela força e coragem de enfrentar isso tudo! Mas um super parabéns por ter uma família unida que te dá suporte, mesmo te levando para coisas "diferentes" kkkk Que Deus te encha de saúde e força! bjo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Minha família é maravilhosa! Louca e muito unida. Depois que eles souberam, tudo ficou mais fácil. Obrigada Renata. Bjo

      Excluir
  3. Uma familiar teve o mesmo problema e está super bem. O prognóstico é muito bom. Sei que vai dar tudo certo! =)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu estou muito animada com a evolução da doença, pós operatório e as chances de cura total. Deus é maravilhoso! Também sei que vai dar tudo certo. Bjo Polyana!

      Excluir
  4. Te amo, mana! Sempre orando por você!

    ResponderExcluir
  5. Ohanna, você tem força e é uma guerreira. Não tenho como imaginar a barra que você passou esse tempo todo, mas fico feliz que seu organismo esteja reagindo bem ao tratamento. Que Deus te proteja e conceda força e fé.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Foi uma loucura, mas graças a Deus foi rápido! Amém, obrigada pelo carinho! Um beijo em você e dois em Alice!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A vida sem tireóide

Carta aberta aos meus queridos amigos