As lições de minha (nem tão) doce Marie

Quem me conhece, mesmo virtualmente, sabe que eu sou mãe de gato.
Como uma mãe apaixonada, eu posto muitas fotos, mas existe algo muito mais importante sobre Marie que há tempos eu quero compartilhar.

Muita gente acha que ela teve sorte, porque eu a encontrei "Em uma tarde de domingo, durante uma chuva de verão, daquelas que chegam e logo vão embora, eu encontrei uma caixa com cinco gatinhas...", mas a verdade toda é que eu quem fui muito sortuda de ter sido escolhida por ela.
Há três anos e meio atrás (era outubro, mas não lembro a data exata), eu estava indo ao supermercado quando escutei o miado das gatinhas na porta do Bradesco, na avenida JK. Liguei para uma dessas ONGs que cuidam de animais abandonados para ir buscá-las. Eram cinco fêmeas lindas. Quando peguei Marie, ela se agarrou à minha blusa e foi subindo como quem pede 'socorro, me leve embora daqui'. Não resisti ao pedido e levei para minha mini casa, sem saber como cuidar daquele bebê que nem ainda nem abrira os olhos (graças a Deus existe a internet né Brasil?).


Dei o nome da gatinha manhosa da Disney esperando que ela fosse tão meiga quanto e desde então, ela tem me ensinado importantes lições:

1. Ninguém muda ninguém:
Lição básica para a vida é não devemos criar expectativas mas insistimos em não aprender né amores?
É difícil! Putz, como é difícil!
Imediatamente, quando conhecemos alguém, imaginamos como vai ser aquele relacionamento e caso o outro tenha algo que nos incomoda, pensamos que com o tempo, vai mudar. Doce ilusão...
Como eu já disse, achei que Marie fosse ser aquelas gatinhas de foto do Instagram: meiga, dengosa, delicada. Eu tinha certeza absoluta que criar um gato era igual criar um cachorro: a gente ensina, eles aprendem, todos ficam felizes, mas a realidade, meus amigos, é bem diferente.
Logo no início, comprei duzentos brinquedos, uma cama toda rosa, que Marie desprezou solenemente. Comprei coleirinhas fofas, com sininhos e ela as mastigou até não dar pra colocar no pescoço. Eu ficava parecendo uma retardada tentando fazer ela gostar de uma bolinha ou um brinquedo que a moça do pet shop garantiu que iria ser sucesso e ela brincando com caixas, com meus prendedores de cabelo (sim, eu uso) e com um coelhinho de pelúcia que era meu xodó de infância, que ela mordeu até arrancar braços, pernas e orelhas.
Marie gosta de morder, caçar, só brinca de me pegar, me atacar enquanto eu limpo a casa, essas coisas.
Me garantiram que quando ela fosse ficar mais dócil quando fosse castrada.. Três anos depois e nada!
Isso me tornou mais tolerante com as pessoas à minha volta e comigo mesma.
Não, você não precisa ser perfeito alguém te amar.
Não, você não precisa de alguém perfeito!
Somos quem somos e quem nos ama, ama desse jeitinho mesmo.
Erramos? Todos os dias, mas quem não erra? Isso leva à próxima lição:

2. A gente não desiste de alguém porque ele pisou na bola:
Marie já me deu muito trabalho nesses três anos.
No primeiro ano, morava em um conjunto de quitinetes super bonitinho. Dois vizinhos tinham carros, um deles adorava ver as poses de Marie deitada sobre o carro, a outra, morria de ódio. Adivinha em qual dos dois Marie subia todo santo dia? No que não podia, é claro. Tive que sair de lá e arrumar uma casa em Palmas, queridos, não é brinquedo não! Até encontrar um lugar bacana, dentro do orçamento, com espaço pra essa gata danada foram meses! Passei muita raiva, chorei muito e quase tive que pagar a pintura do carro da moça.
Marie já quebrou quase todos os pratos da minha casa de uma vez, já quebrou as xícaras do casamento dos meus pais, já comeu as plantas que tinha, minhas carteiras, a capa do iPad.
Contei que Marie gosta de caçar né? Pois é. Marie já trouxe baratas, lagartixas e até uma iguana pra casa. Durante a última campanha, em que quase não tive tempo de ir em casa, ela comeu um passarinho na minha sala. Imagina chegar em casa morta de cansaço depois de uma jornada de 15 horas de trabalho e ter penas por todos os lados... Pois é.
Marie já ficou dois dias no telhado com ciúmes de uma gata intrusa que foi parir lá em casa.
Já me mordeu, me arranhou, já atacou visitas, mordeu minha sobrinha, já saiu pra rua e voltou machucada.
Nessas horas, eu penso: poxa, seria tão mais fácil se eu não tivesse adotado essa gata...
Mas existe a possibilidade de colocá-la pra adoção? Não, nunca. Vai ficar comigo até morrer. Quem é perfeito nessa vida né gente?
Eu estava em tratamento em Goiânia e preocupada com quem? Com Marie que parou de comer porque achou que eu a tinha abandonado.
Não é a toa que esse é meu melhor relacionamento. Se relacionar é difícil, mas se torna impossível quando você espera que o outro jamais faça algo que vá te desagradar.
Vamos à próxima lição:

3. Exigir menos do outro:
Essa é a lição mais importante.
Gatos tem fama de não sentir afeto por seus donos, mas isso é mito.
Eu demorei a entender que pra demonstrar esse carinho, não é necessário estar grudado o tempo todo.
Nós temos um ritual. Quando chego em casa, Marie deita no chão e se revira. Me segue até o pote de comida e pede mais, mesmo se estiver cheio. Sobe na minha perna, arranha minha calça jeans e pede colo. Faço carinho e em menos de trinta segundos, ela pede pra descer.
Tá bom mãe, já matamos a saudade!
Aí ela faz o que der vontade.. Entra na minha bolsa, vai dar uma volta ou volta a dormir.
É rápido, mas basta. Ela sabe que eu estou ali, que está tudo bem, já ganhou carinho, vida que segue.
Quando estou em casa, ela fica onde eu estiver, mas fica de longe, sem me atrapalhar e sem que eu a atrapalhe. Se eu decido virar a Felícia e fazer carinho, ela se irrita, me ataca e se esconde debaixo das camas ou em cima do guarda-roupa. "Ah, ser besta com essa melação toda, vou fugir dessa humana louca"
Essa liberdade que ela me dá é um luxo! Posso viajar no final de semana sem me preocupar. Posso chegar em casa de mal humor, sem ter alguém cobrando por carinho. Posso trabalhar ou estudar em casa sem nada que me atrapalhe.
Hoje eu não saberia nutrir um relacionamento carente mais.
Dia desses, num papo sobre casamento, Glês Nascimento me falava sobre o quanto é bom ter a liberdade de ficar sozinha estando acompanhada. Poder ler um livro na rede, sem que o outro te cobre por atenção. Assistir TV, enquanto o outro está no computador. Eu concordo MUITO. Preservar sua individualidade em um espaço compartilhado é uma benção.

Eu vejo tanta gente reclamando de seus relacionamentos, sejam profissionais, sociais ou amorosos, exatamente por causa desses três pontos. Criam tantas expectativas em relação ao outro, esperam que sejam como sonharam, que jamais façam algo que possa desagradar e que dediquem 100% da atenção sendo que isso é humanamente (e gatamente) impossível!
Levam a vida na exigência da perfeição e não percebem que é muito mais divertido viver as surpresas que a vida nos traz, aprender com os outros, nos adaptar às situações, ver o lado positivo das coisas.

Marie me ensinou e te convido também:
Não faça tanto drama, afinal de contas, um arranhão de gato não mata ninguém.
Se permita viver a vida menos a sério, porque quando a limpeza da casa vira pique-pegue fica muito mais legal.
Vamos nos aventurar, porque ter histórias de iguanas na cozinha é privilégios para poucos.
Vamos nos amar, ainda que não seja como nos desenhos da Disney.



Comentários

  1. Lindo texto Ohanna, é bem assim mesmo, sou mãe de dois lindinhos e apaixonada cada dia mais. Amo! <3

    ResponderExcluir
  2. Não tem como não amar né Maria Helena? Obrigada por ler o blog.
    Beijo.

    ResponderExcluir
  3. No meio disso tudo, acho lindo também a forma como vc aplica os "ensinamentos" da vida com Marie =]

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A vida sem tireóide

Carta aberta aos meus queridos amigos

Quando meu maior medo se tornou realidade